Transmedia Storytelling e a Pesquisa Acadêmica

Buscando uma abordagem dos assuntos através de diferentes perspectivas, o Midializado realizou uma entrevista sobre o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas focadas na prática do Transmedia Storytelling com João Carlos Massarolo, professor na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), cineasta, coordenador do grupo de pesquisa GEMInIS, dentre outros. Com pesquisas e vivência acadêmica na área dos processos Transmídia e Narrativas Digitais, Massarolo compartilhou sua visão sobre formatos, desafios e o futuro da pesquisa na área. A entrevista completa pode ser conferida logo abaixo.
Midializado Considerando a utilização do Transmídia uma prática crescente e que fomenta discussões caudalosas sobre suas potencialidades e particularidades, como o senhor observa a penetração desse tema nas pesquisas acadêmicas que tem lido ou orientado? Quais tem sido os principais focos e abordagens das pesquisas?

João Massarolo/Divulgação

João Massarolo A narrativa transmídia é um dos fenômenos mais significativos da comunicação midiática contemporânea e compreende a criação de mundos de histórias conectadas por meio de múltiplas plataformas de distribuição, onde cada canal contribui com novos elementos da ficção, proporcionando um universo ficcional que engloba e transcende a narrativa central. O potencial econômico de uma narrativa dispersa por diversos canais de distribuição estimula novos arranjos nos modelos de negócios que envolvem os processos de produção e consumo, transformando o conteúdo e a propriedade intelectual em verdadeiras ‘marcas’ das empresas. Neste cenário, pesquisadores e empresas produtoras se deparam com novas oportunidades de negócios nas plataformas que novas gerações de consumidores utilizam para demonstrar suas habilidades de coletores de informação, adquiridas pelo método participativo e imersivo, para seguir os desdobramentos das histórias nas múltiplas telas.

MDL Enquanto pesquisador, quais tem sido suas principais inquietações e motivações nessa área?
JM A narrativa transmídia é fenômeno gerado pela convergência midiática, tecnológica, cultural e histórica. Enquanto tal, se constitui num novo campo do conhecimento e suas premissas encontram-se disseminadas com intensidades variáveis, mas em larga escala, tanto no campo do entretenimento quanto da educação e cultura, influenciando, sobretudo áreas afins, tais como: a publicidade, propaganda e marketing. Atualmente, uma campanha de marketing utiliza diversas ferramentas e plataformas midiáticas para divulgar e agregar valor à marca e colocar produtos, bens e serviços à venda. Um fenômeno de tal porte, no qual o conhecimento produzido é apropriado e difundido massivamente por diferentes áreas, caracteriza o surgimento de novos paradigmas. A crescente produção audiovisual destinada para diferentes plataformas de mídia representa um novo modo de se pensar e fazer cinema, TV, HQs e videogames, entre outras mídias. Um dos grandes desafios que se apresentam na área é elaborar projetos transmidiáticos na perspectiva das mídias móveis (Smartphones e Tablets, entre outros dispositivos).
MDL Quais as principais dificuldades que os pesquisadores do tema têm enfrentado?
JM Uma das minhas atuais preocupações é entender como funcionam as diferentes lógicas de utilização/apropriação do termo ‘Transmedia Storytelling’, procurando identificar e diferenciar os sentidos que são atribuídos ao Storytelling, desde a sua chegada no Brasil. Apesar de na língua inglesa existir o termo “narrativa”, que é muito mais próximo do conceito de narrativa, o estudioso norte-americano de mídia contemporânea, Henry Jenkins, em seu livro ‘Cultura da Convergência’ (2008), prefere utilizar o termo ‘Transmedia Storytelling’ para discutir a emergência de novas formas de contar histórias.  Para Jenkins, o ponto mais importante são as transformações que ocorreram na relação dos usuários com os produtos. Entre elas, podemos destacar a participação das audiências na produção de conteúdos. Neste processo, a maior dificuldade é o desenvolvimento de um projeto transmídia na perspectiva dos usuários. Ou seja, na prática o desafio é encontrar um denominador comum entre a projeção de universos e a imersão dos usuários.  
MDL Pensando em formatos ficcionais consolidados há uma variedade de estudos sobre as estratégias transmídia em Lost e Matrix. Do seu ponto de vista, que outros grandes universos narrativos ainda não foram devidamente explorados e surgem como produtos transmídia que poderiam resultar em grandes pesquisas? Por quê?
JM Os universos narrativos mais interessantes para serem explorados são aqueles que possuem uma estrutura formal serializada, baseados na dispersão textual por diferentes mídias, para serem compartilhados com as audiências. Essas propriedades inovadoras e experimentais do Transmedia Storytelling englobam e transcendem antigas práticas de produção e consumo de narrativas, como se pode observar na crescente produção de web séries, assim como de seriados televisivos e, no caso brasileiro, as telenovelas, principalmente da Rede Globo de Televisão. Neste contexto, aparece muito o tratamento temático relacionado ao fantástico e à ficção cientifica. The Guild, por exemplo, é uma web série (3 a 10 minutos) lançada pela Microsoft em 2007, e mostra a rotina de um grupo de nerds, “Os Cavaleiros do Bem”, que participam de um jogo de RPG online: “The Game”.
MDL No campo dos produtos não ficcionais, quais os formatos e abordagens que você tem visto como pouco abordados e que poderiam render pesquisas interessantes? Qual produto não ficcional que você gostaria de ver analisado?
JM Na era da mobilidade, os aplicativos de geolocalização conectam os sujeitos e as mídias locativas aos lugares, enquanto a localização se transforma numa interface da informação e não é difícil prever que as estratégias que utilizam tais aplicativos para o desenvolvimento de narrativas transmidiáticas se tornem uma tendência promissora, principalmente para o ‘produtor transmídia independente’. O desdobramento de universos narrativos nas plataformas de mídias representa um imenso campo para a exploração do potencial de narrativas móveis, com baixo orçamento e espaço de produção reduzido. É o conteúdo gerado pelos usuários das mídias móveis que inaugura esse novo modelo de design e criação de produtos inovadores. O desenvolvimento de aplicativos para serem acessados nas plataformas de mídia móveis oferece recursos, por exemplo, de geolocalização, transformando o que antes era informação dispersa nas páginas de sites e portais, em conhecimento produzido com a participação dos usuários.
Conheça nosso novo projeto:
www.atlasmedialab.com

Add a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *