Reconhecimento de Padrões: o que é isso?
Finalmente, depois de um mês de leitura, termino o livro de William Gibson, “Reconhecimento de Padroões” e devo dizer que é uma satisfação enorme ter lido o livro e, principalmente, ter tomado contato um pouco do universo cyberpunk da literatura (= não é o cyberpunk ao pé da letra, mas o livro tem raízes bem visíveis desse movimento). Além disso, o livro me fez ler um pouco mais sobre coolhunters, o momento atual da ciberespaço* e sobre algumas variantes do punk.
Irei falar ainda um monte de coisas sobre o livro, mas nesse post vou comentar um pouco sobre o título do livro e o que isso representa, ao meu ver, na comunicação, principalmente na Web.
Uma rápida buscada no Google com as tags “Reconhecimento de padrões” e vejo um monte de artigos científicos, de alto teor empírico e descritivo, sobre o processo de reconhecimento da inteligência artificial dos computadores. Na Wikipedia, o artigo indica justamente a esse campo da ciência da computação.
Mas o interessante é que o livro não faz essa referência, mesmo com a mesma terminologia. No livro, acredito que o título esteja mais ligado ao objeto principal da história e como ele se relaciona com nossa cultura. É complicado eu não dizer alguma coisa da história (= para quem for ler), mas basicamente, o livro trata de questões que nos permeiam cotidianamente, e creio que isso seja parte do processo de reconhecimento de padrão em nossa cultura. Tentarei explicar:
O livro é extremamente atual com nossa vida. Escrito em 2003, o livro retrata muito bem nossa cultura marcada pela Web. Em todo momento há referências de e-mails, o objeto principal do livro vem de um fórum-comunidade da Web e todo um aparato tecnológico que estamos acostumados: iBook, laptops, celulares, etc. E todos essas ferramentas servirão para a protagonista Cayce Pollard, coolhunter (= caçadora freelancer de tendências), para encontrar o autor de um filme que é solto em fragmentos pela Web e anda causando um mistério em torno da narrativa e do próprio criador dessa obra, considerada inovadora e, ao mesmo tempo, uma poderosa ferramenta de comunicação.
O processo de reconhecimento de padrão está em toda essa busca de Cayce pelo criador dessa obra e pela forma como essa obra é vista pelos internautas. Cayce procurou todo suas pistas pela Web. E é esse o primeiro padrão estabelecido no livro: hoje, tudo é encontrado na Web. O mundo está no ciberespaço. Cayce não é nenhuma detetive especializada, mas caça informações como uma, graças ao ciberespaço* e sua vastidão. Ela fez poucos contatos pessoais, e todos esses foram conseguidos pela Web. O livro liga sua habilidade em caçar tendências com seu faro de informação via Web, mas vejo que hoje, 6 anos depois da criação do livro, todos somos Cayce. Um usuário mediano de internet consegue encontrar a maioria de suas informações. E se tiver uma forcinha hacker então, você encontra tudo.
Além disso, a referida obra que Cayce busca saber sobre o criador é um exemplo atualíssimo de como as redes sociais se articulam enquanto redes de informação. Avatares, perfis online e trocas de comunicação são constantes no fórum sobre a obra. É coisa que estamos vivendo hoje, nas redes sociais. E isso é um padrão na cibercultura: essa troca comunitária de informações sobre diversos assuntos que tocam nossas vidas.
Sendo assim, acho que o titulo do livro tem mais a ver com a forma como nos relacionamos com os recentes movimentos da Web. E fazemos isso de forma quase natural: interagindo com novas ferramentas, explorando melhor as possibilidades dos velhos recursos, ou seja, nós mesmos somos coolhunters da comunicação: identificamos as novas tendências e as aplicamos no nosso dia-a-dia. O marketing utiliza da mesma forma, assim como as mídias tradicionais convergem-as para seu proveito, e assim vai. Isso vale tanto para a Web quanto para as novas tecnologias que aparecem a cada dia.
Mas é bom lembrar que por trás de tudo isso, a figura humana é essencial para construção desse universo de padrões. Tudo que Cayce descobriu e desvendou foi intermediado pela comunicação, mas foram os humanos que exerceram o papel fundamental no estabelecimento desses padrões. Portanto, somos interagentes principais da comunicação. Nós que levantamos as tendências, nós que expomos o que está rolando no ciberespaço*, nós que utilizamos as novas tecnologias, enfim, nós somos coolhunters do século XXI.
*o termo ciberespaço foi originalmente criado pelo próprio William Gibson no seu livro clássico Neuromancer, livro que originou a trilogia Matrix.
www.atlasmedialab.com
“…hoje, tudo é encontrado na Web”.
Absolutamente tudo.
O curioso é que esses padrões vêm em ondas. As redes sociais vão se deslocando de uma interface a outra, e os usuários sempre em dinâmica com todas elas. Mas a essência não muda: a informação somos nós mesmos.
Adorei a resenha, Ishida! Beijo enorme! 🙂
A primeira coisa em que eu pensei ao ler o título do post foi: “Um midiálogo escrevendo sobre inteligência artificial?”. Mas o espanto parou por aí.
Não foi surpresa o debate humanístico sobre a questão do reconhecimento de padrões, já que muitos dos assuntos que orientam os esforços em IA têm origem na agenda de questões proposta e freqüentemente revisada pelas humanidades. Entretanto, acho fundamental o tipo de evidenciação que o post faz, principalmente para quem está ligado(ou deveria estar) em inter/transdisciplinariedade.
Parabéns pelo post! Não li o livro, mas agora, isso é questão de tempo….
obrigado li e joxo pelos comentários! ainda publicarei mais algumas coisas em relaçao ao livro porque ele é muito instigante. Ainda tento organizar as informações e o raciocínio para formular meus pensamentos. ^^