Realmente são novos tempos?
Para introduzir o post, eis a reportagem.
O grande impacto que senti ao ler foi: quase 3 milhões de lares ainda estão despreparados para receber o sinal digital. É muita coisa, para o fato de ser os EUA (um dos tronos da revolução digital) e, pior ainda, pelo fato de que, em pleno 2009, o digital ainda não conseguir tomar todo espaço em um país super-desenvolvido como os EUA.
Essa notícia me fez pensar se o hardware está acompanhando o software. Ou seja, se o aparato está acompanhando todas as mudanças no nível “semântico” (= não sei se é a expressão correta). Presenciamos tantas inovações nas novas mídias (= Web como maior símbolo, além do mobile), como as novas plataformas de interatividade, as novas disposições de rede digital (e novas revisões do próprio conceito) e as novas possibilidades de uso, além de inovações no mesmo patamar nas mídias tradicionais, como os novos paradigmas de criação de conteúdo e reciclagem dos profissionais. Mas será que a estrutura tecnológica está acompanhando essas mudanças profundas? Não digo isso no sentido de inovação tecnológica (= até mesmo porque essa deve estar além de todas essas mudanças) mas digo isso no sentido mais socializado, mais perto de todos nós.
Todas as mudanças listadas acima permeiam nossas vidas. Dedico essa característica graças a revolução da Web: as inovações atingem a massa de internautas (= acho que é aqui que a nova mídia se assemelha com a mídia de massa, vulgo tradicional). Softwares de interatividade móvel também são próximas a nós (= “só” basta comprar um dispositivo móvel compatível), além de outros tantos recursos da nossa vida cibercultural.
Mas vendo a reportagem, questionei duas coisas de imediato: ou a mídia tradicional também inova na mesma velocidade que demorou para se reciclar no surgimento das novas mídias (= que, para mim, eles ainda não atingiram a linha de chegada) ou que a fusão nova mídia (Web e interatividade) com velha mídia (Televisão) é algo que só aponta para o que alguns aficcionados teóricos cyber defendem: ambos não se combinam e a nova mídia é “nova”, no sentido de substituir de vez a velha (= o que discordo).
Pensando mais concentradamente, vejo que são as duas opções juntas. A fusão entre dois símbolos aparentemente distintos (Web e Televisão, símbolos maiores da nova e velha mídia) proporcionada pela criação da TV Digital é algo que realmente vai demorar para acontecer, mesmo em países desenvolvidos. Todo processo de fusão entre duas coisas tão diferentes é demorado (= vulgo Dragon Ball Z, em que Gothen e Trunks demoraram um bom tempo para conseguirem se fundir e formar Gothenks). Demorado no sentido de se tornar ao alcance de todos, atingir o nível social de uso. Isso independe de plataforma tecnológica de estrutura e sim de aplicação prática, algo que o hardware é bem mais complicado.
Acontece também é que a velocidade da velha mídia é bem diferente da nova. É nesse ponto que discordo dos cybercults: não é que a velha mídia não sirva para a nova, mas é que são dois contextos diferentes. Basta uma adaptação de sintonia para ambos caminharem juntos (= com o que a TV Digital irá proporcionar). Assim sendo, utilizo o exemplo da pizza: como em maioria das pizzarias, se eu peço meia pizza do tipo X e meia pizza do tipo Y, eu pagarei a pizza inteira com o preço do tipo de pizza mais caro (X ou Y). E é isso que acontece: a velocidade da nova mídia é bem mais dinâmica (= justamente por sua criação ser marcada assim) do que a velha. Então, a velocidade dominante será da velha. A televisão demorou quase 50 anos para atingir sua popularidade, então esperar mais uns três ou quatro anos para a popularização da TV Digital não vai matar ninguém. Talvez mate a raíz da velha mídia (= o que me agradaria bastante).
www.atlasmedialab.com
para operar, a velha forma de televisão analógica exigia um investimento muito alto: câmeras, manutenção de acervo, antenas, profissionais especializados, produção criativa…
a nova televisão digital nasce em outro contexto. o acervo está digitalizado e é acessível pela rede, manter seu HD custa muito pouco. webcam não é o futuro da imagem, mas uma DVcam custa cada vez menos. as antenas analógicas caem cada vez mais de preço, e mesmo a banda de freqüência ocupada pela transmissão é menor. experimentar é barato e simples, aprender é rápido e versátil.
então por que é que a nova mídia pode se tornar igual à velha (estou comparando tvs, sem botar a web no meio). dicas: produzir e transmitir conteúdos não precisam ser parte de um mesmo circuito. quando o ministério de comunicações brasileiro decidiu não separar esses nós da rede, deixando a transmissão coletivizada, ele não equilibrou a diferença entre pequeno e grande produtor. ou seja, a tv digital poderia ser participativa como a web é.
outra dica: por medo dos problemas de propriedade intelectual, a tv digital obstrui o caminho de seu conteúdo aos circuitos digitais da internet. o que é uma perda para a tv digital E para a sociedade. a cultura participativa é também uma cultura de colagem, incrementação gradual e colaboração reelaboradora. querer cercar o conteúdo é se privar dessa cultura.
uma mídia não substitui outra, mas pode vir a eclipsá-la. este é um caso em que uma cultura midiática pode eclipsar outra cultura. mas pra isso, a cultura da web ainda precisa de reforços.