O modelo utópico de Kelly
Os últimos capítulos do livro “Conectado” de Juliano Spyer se dedicam a traçar alguns possíveis rumos para o cenário da Web no futuro. Spyer destaca dois raciocínios, não totalmente excludentes um do outro: o modelo utópico de Kelly e o modelo “Grande Irmão” de Benkler. Apresento no post de hoje o modelo de Kelly.
Kevin Kelly, em seu livro “Out of Control” (um dos inspiradores da trilogia Matrix), afirma que, no futuro, a relação entre homem e máquina será retroalimentada e, assim, não haverá mais distinção entre ambos. As duas entidades formarão a nossa identidade. Basicamente, não serei Gabriel Ishida se não tiver uma identidade na Web, como perfil em Orkut, twitter, etc. Meu RG e CPF não valerão nada se eu não tiver interconectado.
Kelly acrescenta que o sistema de identificação dos cidadãos será totalmente online, num cenário bem parecido com o que vemos no filme Minority Report. Além disso, todas as ações sociais serão também afetadas por essa nova relação. Para Kelly, isso é muito bom, pois, em suas palavras: “Quando a união do nascido e do fabricado estiver concluída, nossas criações vão aprender, se adaptar, se consertar e evoluir. Esse é um poder que nós dificilmente sonhamos até agora”.
Esse poder é o “poder da emergência”. Steve Johnson afirma que esse poder da emergência é quando o resultado do coletivo é maior do que a soma simples das partes, ou seja, o sistema passa para uma nova fase. Assim, Kelly defende que a junção das duas redes (neural e ciber) com as relações individualizadas formará uma nova rede, um novo modo de vida, um novo acesso ao conhecimento nunca visto antes. E tudo descentralizado, tudo em rede, no seu conceito mais puro.
Para finalizar, Kelly afirma que as pessoas nascem espontaneamente plugadas à rede. Não são escravas, mas não são livres. Sua condição de indivíduo deixa de existir ou pelo menos ser relevante, da mesma maneira como as células do nosso corpo se constituem em seres individuais que abdicam de sua autonomia em nome da sobrevivência coletiva em um novo estágio evolutivo.
Acho extremamente exagerada essa idéia, de retroalimentação contínua. Acredito que, realmente, no futuro dependeremos das máquinas e da Web para realizarmos nossas atividades, até as mais banais e cotidianas, como fazer compras do mês, mas não perderemos nossas identidades enquanto indivíduos. Apesar que acredito realmente que não haverá mais documentos físicos: tudo será pela rede. Mas duvido muito que o trabalho e contato humanos sejam perdidos assim, mesmo com esse domínio das máquinas.
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