As três visões da comunicação de Sfez
Muito interessante a divisão que Lucien Sfez estabelece em seu livro “A comunicação“. Basicamente, ele separa a comunicação em três visões: representacional, expressiva e confusional.
Representacional, ou visão das máquinas, é uma vertente utilizada pelas primeiras pesquisas norte-americanas em comunicação de massa (Lasswell, Lazarsfeld, etc.) além dos críticos de Frankfurt. Ela deriva da Teoria da Informação de Shannon e Weaver e consiste no distanciamento observacional do sistema comunicativo. É ver o meio apenas como um canal de transmissão. O meio é neutro, apenas utilizado para a transmissão da mensagem. Quem tem poder aqui é o emissor. Ele que rege as determinações do conteúdo. Atualmente, essa vertente ganha força com os experimentos teóricos da Inteligência Artificial, pois se entende que o emissor (os programadores e cientistas) possuem papel primordial na construção do sistema artificial de inteligência.
Expressiva, ou visão do organismo, é a vertente utilizada pela Escola de Chicago, Palo Alto e Estudos Culturais Britânicos. É entender a comunicação como parte natural de um todo (o Creatura de Bateson). Para Bateson, não há uma distinção entre emissor, mensagem, meio e receptor. Essa distinção é desconsiderar a comunicação como processo natural do ser humano. O meio faz parte do todo, ou seja, seu uso é determinado para expressar algo comunicativo dos seres humanos. É como se a comunicação fosse algo latente nas pessoas e que o meio é a “faísca” (= oportunidade, canal) para que as pessoas se comuniquem. Aqui, quem tem o poder é o receptor. O receptor tem o mesmo nível hierárquico do emissor, pois o entendimento da mensagem depende, exclusivamente, do receptor. E esse também tem o papel fundamental da circularidade da informação, ao se tornar emissor, formando um círculo orgânico da comunicação.
Confusional, ou visão do tautismo, é a vertente utilizada pelos atuais estudos da Cibercultura, principalmente os voltados para a questão do simulacro e realidade virtual. A distinção emissor, meio, mensagem e receptor é multinivelada, ou seja, existem várias camadas dessa distinção, pois, para a visão confusional, vivemos em diferentes realidades comunicativas. Isso é causado pelo efeito que os meios de comunicação fizeram em nossas vidas. Atualmente, o ser humano é indissociável ao meios de comunicação. Sua identidade e suas atitudes são moldadas de acordo com os meios de comunicação e o universo que cada um cria. Para Chomsky, um ser humano sem meios de se comunicar não é um ser humano. A comunicação representacional e a expressiva se misturam, pois tudo depende da visão de realidade que é adotada. Aqui, quem tem o poder é o meio, pois ele é quem molda a realidade do ser humano, tornando-se indispensável e indissociável à nossa condição humana.
www.atlasmedialab.com
Gabriel, muito boa a síntese do texto do Sfez, e de suas interpretações sobre a comunicação. Estou preparando um seminário sobre a comunicação expressiva segundo Sfez, e o seu texto aqui no blog me abriu a mente. Obrigada.
oi bianca, que bom que o post foi útil para você.
obrigado pelo comentário!
Há poucos artigos em português sobre o Lucien Sfez, que explica com essa clareza. Concerteza vai me ajudar no Interdisciplinar de Publicidade e Propaganda. Parabéns
Bela síntese, Grabriel. Clareou bastante as ideias pra mim.
obrigado Illus e Irineu!