Como mensurar a si mesmo?
Posted On 08/01/2011
Recentemente voltei a ler um artigo do New York Times publicado em abril do ano passado por Gary Wolf intitulado “The Data-Driven Life”. Era a terceira vez que eu lia o artigo – uma das melhoras coisas que li no ano, sem dúvida – e a terceira vez que eu cogitava tratar deste assunto em um post. Agora vou.
O tal Gary Wolf do artigo do NYT comanda juntamente com Kevin Kelly – os dois são editores da Wired Magazine – um projeto em forma de blog chamado “The Quantified Self”. O objetivo deste projeto é reunir e incentivar os projetos mais fantásticos e malucos de análise de dados pessoais, buscando torná-los econômica e culturalmente viáveis. Coisa de louco, né? É difícil imaginar como e porque analisar dados sobre hábitos pessoais, saúde, alimentação, pode nos ajudar a viver melhor ou otimizar certos aspectos de nossas vidas.
Um bom ponto de partida talvez sejam dois bons exemplos (que normalmente não vemos como típicas ferramentas de dados):
Foursquare: Você dá um check-in aqui, outro ali; vai na balada? Check-in. Naquele restaurante? Check-in. Aí você olha pro seu histórico de Check-ins no ano de 2010 e percebe que você só trabalhou e comeu em fast food. Ok, você já sabe disso? Mas o problema é que normalmente temos algo que vou chamar de mecanismo de auto-remissão. “Sei que fui no fast-food algumas vezes… mas também fui várias na academia” Que tal saber exatamente quantas foram? E se chocar com os resultados.
Videogames: É comum, e até digno de troféus, que você possa visualizar em qualquer jogo de videogame – incluindo aqueles do Facebook – seus Status. O quanto você progrediu, quanto jogou, quantos zumbis matou ou quantos pés de milho colheu. Videogames analisam, demonstram e valorizam dados há anos, como uma boa forma de incentivar as pessoas a jogarem mais e se divertirem melhor. Não é por acaso que o Foursquare tem um aspecto lúdico, que lembra muito um jogo.
Mas, na prática, não é tão simples entender porque se “perderia tempo” acumulando dados sobre atividades do dia-a-dia pode contribuir para uma vida mais agradável, mais produtiva, mais eficiente. A raiz deste trauma é a associação de “dados” com “controle”. Na medida em que “controle” é associado a algum tipo de neurose, realmente temos um problema.
O objetivo destes dados, porém, não é o controle, chato e neurótico, sobre a vida. Mas uma visualização e compreensão de aspectos que passam despercebidos.
Existem coisas que todos querem:
Todo mundo quer ter uma grana no fim do mês, pra sair com o amigos ou comprar um smartphone. Se você não nasceu com o dom de controlar bem seus gastos vai torrar seu dinheiro em doces, uma cervejinha aqui, um almoço mais caro ali… no fim do mês você nem se lembra com o que gastou e não tem o smartphone.
Sua opção 1 é a auto-remissão, sua opção 2 é a planilha de Excel. Ambas não são legais. Então temos a 3: uma ferramenta que demonstre seus gastos de maneira intuitiva e dinâmica, a partir de classificações, revelando o quanto você gastou com almoços, doces e o quanto falta para você comprar o smartphone. Um exemplo nacional deste tipo de ferramenta é o Organizze. (vale a pena, tem me ajudado muito)
Todo mundo quer ser feliz. Mas algumas atividades, a despeito do prazer imediato, nos deixam mais felizes do que outras. Alguns tipos de comida, horários do dia, companhias… a felicidade é única para cada um, mas muito provavelmente segue um padrão em cada vida. Sim, a felicidade é mensurável.
Nem todo mundo quer entender como ouve músicas, vê filmes ou lê livros. Mas deveria. Por uma razão muito simples: é divertido pra caramba. É fantástico poder visualizar suas mudanças de gosto, o tempo dedicado à música ou à leitura, perceber como descobrimos certas bandas. E, claro, poder contar isso pra todo mundo. Para músicas, o Last.fm possui funcionalidades bacanas. Para livros, Goodreads.
Os resultados e a sensação de “dever cumprido” proporcionada pela análise de dados pessoais são, pelo menos para mim, incomparáveis. Ferramentas de produtividade como o Basecamp ou o RescueTime me ajudam no trabalho a organizar melhor meu tempo. O mais importante: me demonstram depois, ao final, quanto tenho gasto com cada coisa. De repente descubro que passo tempo demais no Twitter e encontro um melhor momento, no qual normalmente fico ocioso segundo a ferramenta, para fazer isso.
As ferramentas citadas aqui são apenas exemplos. E nada te impede te criar seus próprios mecanismos de auto-monitoramento. O único problema é que nem todas estas ferramentas são gratuitas, geralmente cobram uma pequena mensalidade para se ter acesso a todas as funcionalidades, como é o caso do Last.fm. Mas aí é só colocar estes gastos no Organizze como “conhecimento”.
Enquanto isso, fiquem com a conversa rápida, de 5 minutos, do Gary Wolf no TED. Vale a pena também. E até a próxima!
Conheça nosso novo projeto:
www.atlasmedialab.com
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2 Comments
Muito bom post Blasé.
Dentro do assunto, o Google Latitude nos mostra um controle sobre nosso tempo. Quanto tempo demoramos dentro do ônibus para o trabalho? Quanto tempo fico no trabalho? Quanto tempo fico em casa? e outras questões desse tipo são mostrados pelo Latitude.
Não uso, mas conheço muitas pessoas que usam e, para quem tem problemas em gerenciar tempo, parece uma ótima pedida.
Eu não conhecia essa. Valeu! Até procurei há um tempo alguma ferramenta do google relacionada a isso, mas não encontrei.