Como mensurar a si mesmo?

Recentemente voltei a ler um artigo do New York Times publicado em abril do ano passado por Gary Wolf intitulado “The Data-Driven Life”. Era a terceira vez que eu lia o artigo – uma das melhoras coisas que li no ano, sem dúvida – e a terceira vez que eu cogitava tratar deste assunto em um post. Agora vou.
O tal Gary Wolf do artigo do NYT comanda juntamente com Kevin Kelly – os dois são editores da Wired Magazine – um projeto em forma de blog chamado “The Quantified Self”. O objetivo deste projeto é reunir e incentivar os projetos mais fantásticos e malucos de análise de dados pessoais, buscando torná-los econômica e culturalmente viáveis. Coisa de louco, né? É difícil imaginar como e porque analisar dados sobre hábitos pessoais, saúde, alimentação, pode nos ajudar a viver melhor ou otimizar certos aspectos de nossas vidas.
Um bom ponto de partida talvez sejam dois bons exemplos (que normalmente não vemos como típicas ferramentas de dados):
Foursquare: Você dá um check-in aqui, outro ali; vai na balada? Check-in. Naquele restaurante? Check-in. Aí você olha pro seu histórico de Check-ins no ano de 2010 e percebe que você só trabalhou e comeu em fast food. Ok, você já sabe disso? Mas o problema é que normalmente temos algo que vou chamar de mecanismo de auto-remissão. “Sei que fui no fast-food algumas vezes… mas também fui várias na academia” Que tal saber exatamente quantas foram? E se chocar com os resultados.
Videogames: É comum, e até digno de troféus, que você possa visualizar em qualquer jogo de videogame – incluindo aqueles do Facebook – seus Status. O quanto você progrediu, quanto jogou, quantos zumbis matou ou quantos pés de milho colheu. Videogames analisam, demonstram e valorizam dados há anos, como uma boa forma de incentivar as pessoas a jogarem mais e se divertirem melhor. Não é por acaso que o Foursquare tem um aspecto lúdico, que lembra muito um jogo.
Mas, na prática, não é tão simples entender porque se “perderia tempo” acumulando dados sobre atividades do dia-a-dia pode contribuir para uma vida mais agradável, mais produtiva, mais eficiente. A raiz deste trauma é a associação de “dados” com “controle”. Na medida em que “controle” é associado a algum tipo de neurose, realmente temos um problema.
O objetivo destes dados, porém, não é o controle, chato e neurótico, sobre a vida. Mas uma visualização e compreensão de aspectos que passam despercebidos.
Existem coisas que todos querem:
Todo mundo quer ter uma grana no fim do mês, pra sair com o amigos ou comprar um smartphone. Se você não nasceu com o dom de controlar bem seus gastos vai torrar seu dinheiro em doces, uma cervejinha aqui, um almoço mais caro ali… no fim do mês você nem se lembra com o que gastou e não tem o smartphone.
Sua opção 1 é a auto-remissão, sua opção 2 é a planilha de Excel. Ambas não são legais. Então temos a 3: uma ferramenta que demonstre seus gastos de maneira intuitiva e dinâmica, a partir de classificações, revelando o quanto você gastou com almoços, doces e o quanto falta para você comprar o smartphone. Um exemplo nacional deste tipo de ferramenta é o Organizze. (vale a pena, tem me ajudado muito)
Todo mundo quer ser feliz. Mas algumas atividades, a despeito do prazer imediato, nos deixam mais felizes do que outras. Alguns tipos de comida, horários do dia, companhias… a felicidade é única para cada um, mas muito provavelmente segue um padrão em cada vida. Sim, a felicidade é mensurável.
Nem todo mundo quer entender como ouve músicas, vê filmes ou lê livros. Mas deveria. Por uma razão muito simples: é divertido pra caramba. É fantástico poder visualizar suas mudanças de gosto, o tempo dedicado à música ou à leitura, perceber como descobrimos certas bandas. E, claro, poder contar isso pra todo mundo. Para músicas, o Last.fm possui funcionalidades bacanas. Para livros, Goodreads.
Os resultados e a sensação de “dever cumprido” proporcionada pela análise de dados pessoais são, pelo menos para mim, incomparáveis. Ferramentas de produtividade como o Basecamp ou o RescueTime me ajudam no trabalho a organizar melhor meu tempo. O mais importante: me demonstram depois, ao final, quanto tenho gasto com cada coisa. De repente descubro que passo tempo demais no Twitter e encontro um melhor momento, no qual normalmente fico ocioso segundo a ferramenta, para fazer isso.
As ferramentas citadas aqui são apenas exemplos. E nada te impede te criar seus próprios mecanismos de auto-monitoramento. O único problema é que nem todas estas ferramentas são gratuitas, geralmente cobram uma pequena mensalidade para se ter acesso a todas as funcionalidades, como é o caso do Last.fm. Mas aí é só colocar estes gastos no Organizze como “conhecimento”.
Enquanto isso, fiquem com a conversa rápida, de 5 minutos, do Gary Wolf no TED. Vale a pena também. E até a próxima!
Conheça nosso novo projeto:
www.atlasmedialab.com
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