TV Record lança o primeiro telejornal transmídia do país

O mais novo lançamento do Grupo Record, o Jornal da Record News, ancorado por Heródoto Barbeiro, chega ao mercado recheado de novidades para os amantes dos noticiários diários e das inovações na área de comunicação. Antonio Guerreiro, diretor do portal R7, ao se pronunciar sobre o lançamento do produto na coletiva de imprensa, realizada na Livraria Cultura do Conjunto Nacional em São Paulo, dia 16 de maio, classificou o mesmo como o primeiro telejornal transmídia da América Latina, fruto de um esforço conjunto da equipe e da emissora para levar aos telespectadores uma experiência além do crossmedia.


Transmídia? Crossmedia? Esses e muitos outros conceitos estão cada dia mais presente em nosso cotidiano e muitos de nós ainda não sabem bem do que se trata. Ao estrear esse espaço de discussão, oferecido pelos idealizadores do blog, pretendo trazer para o centro do debate alguns conceitos, teorias e idéias inovadoras da área da comunicação que toquem, principalmente, acontecimentos relacionados à televisão e seus produtos, de forma a promover um diálogo com os leitores do blog.


O conceito de crossmedia nasce nos anos 90 perante o rápido desenvolvimento dos meios de comunicação e do crescimento no uso e penetração de tecnologias portáteis. Em uma tradução livre, “mídia cruzada”, o termo passa a designar a forma de pulverização de um conteúdo específico para diferentes mídias, visando integrá-las, normalmente por meio de uma plataforma on-line como um site ou portal, observando as possibilidades e particularidades de cada uma delas.


O principal objetivo de uma campanha crossmedia é um impacto ainda maior e mais abrangente no cotidiano dos consumidores, buscando abordá-lo por diferentes meios e formas, consolidando o branding, ou a marca, no mercado.


A evolução do termo observa alguns estágios que coexistem e não são práticas obsoletas. No princípio, o crossmedia representava uma variação quase inexistente no conteúdo a ser transmitido, uma vez que o foco era a transição de uma mídia para outra com pouca ou quase nenhuma alteração estrutural como, por exemplo, um áudio televisivo se tornando um podcast.


No decorrer dos anos a experiência do crossmedia passou a ser fortemente calcada em materiais considerados extras, ou seja, o produto veiculado possuía um material inédito que acompanhava o original, como os extras presentes em um DVD, que agrega novas informações.


Por fim, o crossmedia passou a designar a prática da construção de “pontes” entre mídias. Ao final do programa televisivo, um letreiro digital indica um site para mais informações sobre o assunto e também o endereço para um bate-papo ao vivo com o entrevistado. Essa forma de condução do usuário de uma mídia para outra caracteriza mais fortemente o crossmedia e é esse processo que o novo telejornal busca transcender.


O Jornal da Record News vai apostar em uma evolução do conceito de crossmedia, o popular transmídia, ou transmedia storytelling, que, em linhas gerais, se refere ao processo de se contar uma história através de múltiplas interfaces, nas quais, cada uma possui um nível diferente e exclusivo de informações. O principal foco, como veremos, é o usuário, que interage e cria sua própria narrativa, sendo obrigado a se transferir de um meio para outro, diminuindo a passividade de outrora.


As atrações do JR News começam a ser veiculadas muito antes de o programa ir ao ar quando os internautas, através do portal R7, passam a ter acesso às imagens dos estúdios da emissora, onde os apresentadores se preparam para ir ao ar e comentam algumas das pautas do dia.


Com o jornal já em rede nacional, ainda podendo ser acompanhado pelo portal, como também pela televisão, a composição do bloco se mantém, na maioria do tempo, semelhante aos moldes já conhecidos da indústria com a alternância da apresentação das notícias e VTs pelos apresentadores, a entrada em link dos correspondentes internacionais da emissora e também a participação dos comentaristas especialistas nos assuntos abordados. Entretanto, durante e após todos esses processos, o público pode interagir com os apresentadores em tempo real através da página oficial do telejornal no Facebook, ou ainda, por meio do Twitter. Essas intervenções acabam compondo e alterando os rumos da atração, uma vez que as perguntas enviadas irão compor as entrevistas e alguns comentários serão lidos e debatidos no ar.


Durante o intervalo comercial, o público da rede pode continuar acompanhando os bastidores do programa e algumas reportagens são novamente comentadas e outras perguntas são feitas aos comentaristas, ampliando as informações que foram passadas em rede nacional. Além disso, logo após o final do jornal, por mais 15 minutos, o jornal permanece no ar com o mesmo intuito, aprofundar algum tópico ou realizar mais questionamentos.


O formato do jornal privilegia diferentes plataformas não apenas porque permite ao público interagir e acompanhar os bastidores do jornal, mas principalmente por estar alocado dentro de um portal de notícias que oferece a possibilidade de visionamento de vídeos e reportagens complementares às matérias transmitidas aprofundando o assunto. Além disso, estão linkados na página oficial do telejornal, os blogs dos comentaristas convidados, como Beth Goulart, Rubens Ewald Filho, David Uip, Ricardo Kotscho e outros que comentam os assuntos que acreditam ser mais pertinentes em suas áreas e indicam referências, por vezes em outros suportes ou mídias sociais.


Por fim, esta multiplicidade de plataformas permite um conhecimento mais completo e uma visão diferenciada sobre os fatos, fomentando um debate ainda mais rico entre a população.


A experiência do Grupo Record, que pode ser acompanhada todos os dias às 21h no Record News, ainda começa a ser conhecida pelos internautas e telespectadores em geral, mas não deixa de ser uma iniciativa muito positiva e que abre as portas para novas possibilidade de criação e uso de conteúdos transmídias, os quais podem auxiliar uma maior interação entre produtor e receptor de conteúdo e modificar a forma de se ver televisão.


Sobre o autor: Fernando Martins Collaço (@ferinmotion) é midiálogo, editor de vídeos, pesquisador na área da televisão e minisséries, colunista eventual e fotógrafo de moda nas horas vagas



Referências
Programa Cases (Adriano Foss) – programacases.com.br
Webdiálogos – webdialogos.com
Wikipédia – wikipedia.org
Livro “Cultura da Convergência” de Henry Jenkins


links
r7.com/jrnews
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