Entrevista com Laudelina Pereira, mestranda e profissional de comunicação
Em comemoração de um ano de minha newsletter, teremos uma série de quatro entrevistas com profissionais de diferentes áreas do nosso mercado de comunicação e marketing. A primeira entrevista foi com um profissional de mídia, a segunda com uma profissional de planejamento e conteúdo e a terceira foi com um coordenador de pós graduação.
A última entrevista é com Laudelina Pereira, consultora em marketing digital com passagem em agências, empresas e consultorias atuando para grandes players como Citi, Credicard, Dow Química e Cyrela. Mestranda em Ciência da Informação (USP) com especialização em Planejamento Estratégico (UMESP) e Comunicação Digital (USP), atua como palestrante na trilha academia aplicada ao mercado. Também é professora em programas de pós-graduação (Senac, Anhembi Morumbi e ESPM).
Eu: Cada vez mais vemos profissionais de comunicação indo atrás de mestrados e doutorados não para seguir carreira acadêmica, mas para enriquecer o currículo. Na sua visão enquanto mestranda, quais as vantagens de uma formação stricto sensu para a formação de um profissional?
Laudelina: O rigor científico que é exigido na formação stricto sensu ajuda a desenvolver um olhar mais crítico para as questões do dia a dia. E este olhar crítico é fundamental para repensar processos, modelos de negócio e gerar inovação em produtos e serviços. Problematizar, revisitar teorias e aplicações, acompanhar estudos inéditos e propor novas técnicas são práticas valorizadas em cargos estratégicos, principalmente em empresas de alta performance e consultorias.
Outra vantagem é a possibilidade de lecionar: Trabalhar de dia na área e dar aulas a noite. Muitos profissionais tem procurado esta dinâmica na carreira, seja pelo prazer de dividir seu conhecimento, enriquecer o currículo ou ainda para ter uma renda extra. Cada vez mais instituições de ensino procuram profissionais com experiência de mercado para oferecer aos alunos a oportunidade de se conectar com os desafios corporativos.
No caso das faculdades, o MEC exige uma quantidade mínima de mestres e doutores no quadro de docentes. Então ter uma formação stricto sensu é importante para quem tem este objetivo de carreira.
Além disso, essa experiência em produzir cursos e artigos na sua área de atuação só reforça que você tem autoridade naquele assunto, e este diferencial também ajuda a fechar negócios.
Eu: Uma visão frequentemente debatida é o que o mercado pode oferecer para a academia e vice-versa. Grande parte dos profissionais acreditam que não há inovações na academia que possam agregar pro mercado, assim como muitos acadêmicos não enxergam o que o mercado pode trazer para as pesquisas. Na sua opinião, como os dois lados podem agregar um ao outro?
Laudelina: Quando falamos em inovação observo que, muitas vezes, mercado e academia possuem interesses complementares. Faz parte da natureza acadêmica produzir conhecimento e trazer contribuições inéditas a sociedade. Em contrapartida, as organizações precisam investir em tecnologias e projetos inovadores para manter a competitividade no mercado. Por isso vejo que esta parceria pode trazer benefícios a economia e a comunidade.
Empresas como a Natura e até organizações do terceiro setor possuem áreas que tocam projetos de pesquisa em parcerias com universidades. No caso de empresas, como os ciclos de vidas dos produtos em geral são curtos, é comum ter profissionais de comunicação nas áreas de Pesquisa e Desenvolvimento para investigar o comportamento do consumidor e assim avaliarem se aquele novo produto terá aderência ao mercado.
Vemos muitos profissionais fazendo benchmarking e análises focando apenas no mercado e negligenciando informações da academia, mas vale dizer que é incrível a quantidade de temas que já foram investigados.
Ignorar estas produções pode fazer com que estude algo que já foi analisado anteriormente ou até resolvido por outros pesquisadores.
Por isso vale a pena (todo profissional) dar uma olhada nas produções acadêmicas, pois a partir delas você poderá oferecer uma estratégia muito mais inovadora e assertiva.
Eu: Para quem quer entrar em um programa de mestrado e não sabe por onde começar, quais dicas você dá?
Laudelina: Pra começar, o mais importante é escolher uma linha de pesquisa ou mesmo um tema que gostaria de estudar. A partir daí fica mais fácil afunilar suas escolhas até chegar ao projeto de pesquisa, já que o projetinho é essencial na maioria dos processos seletivos.
O ideal é planejar com um ano de antecedência, para ter tempo de montar seu projeto, conhecer os programas das instituições, participar de congressos e ser aluno especial. Resgatar editais do ano anterior ajuda a entender as fases do processo.
Ser aluno especial é uma grande oportunidade de ter aula com seu futuro orientador e estudar com os mestrandos e doutorandos. Além de viver a dinâmica da disciplina, o contato com outros estudantes pode te ajudar a conhecer melhor o curso e pegar dicas para o projetinho. Outro ponto bacana é que você já pode acumular créditos como aluno especial.
Assim que sair o edital, separe a bibliografia obrigatória e pesquise no Lattes as produções dos orientadores do programa para ver qual deles tem mais aderência ao seu tema. Fique atento a prova de idiomas, em geral esta etapa é eliminatória. Participar de mais de um processo seletivo é puxado mas aumenta suas chances de entrar no mestrado. Fazer um cronograma ajudará a desenvolver um projeto de qualidade e você terá tempo de estudar todo o conteúdo da prova.
Há excelentes iniciativas gratuitas que ajudam a criar um pré-projeto, como o coletivo Mestres Pretxs idealizado por Tarcízio Silva, Taís Oliveira, Lina Moreira e Marcus Vinicius Bomfim. Também há palestras organizadas por instituições de ensino como da UFPR no Programa de Pós-Graduação em Comunicação. Importante lembrar que dedicação é a palavra-chave para entrar no mestrado.